Debaixo de chuva e frio, cerca de 100 pessoas se reuniram na última semana para protestar em frente ao residencial Alphaville 1, onde morava Maurilio Pereira, morto no Natal. O rapaz de 28 anos, ex-tenente do exército, foi assassinado pelo escrivão da polícia civil Bruno Martine, também morador de Alphaville.
Antes dessa concentração, amigos e familiares já haviam se reunido, às 16h30, em frente ao fórum da cidade de Barueri, onde estão os juízes que deram a liberdade para o acusado, na semana passada. O juiz alegou que o Bruno tinha residência fixa e por isso poderia responder em liberdade.
Quando anoiteceu, do residencial Alphaville 1, onde os pais de Maurilio moram, os amigos seguiram para a avenida Cauaxi, onde mora o acusado.
Com narizes de palhaço e entoando gritos de “assassino”, os manifestantes alguns amigos do ex-tenente se diziam injustiçados com a soltura do escrivão da polícia. “Nós estamos brigando por justiça, pois ele tem que voltar para a cadeia. Enquanto ele não for para a cadeia nós não vamos sossegar”, disse o amigo de Maurilio, André Buccater.
Os amigos do ex-tenente assassinado ressaltaram a tranquilidade de Maurilio no dia a dia. “Era um cara muito tranquilo, de paz. Está todo mundo com medo, pois tem um assassino à solta”, disse Marcos Vinholi, outro amigo do rapaz assassinado.
Maurilio serviu as Forças Armadas durante oito anos e segundo amigos nunca se envolveu em confusões. “Foi a maior perda da minha vida, eu perdi um irmão, estamos com uma sensação de impunidade de ver um assassino solto”, comentou Tiago Venturini Antunes, presente na manifestação.
Para Fabio Mercante, que conhecia o ex-tenente há 23 anos, ele era sempre o melhor nas provas disputadas no exército, e espera que o caso tenha um desfecho justo para a família de Maurilio. “Eu espero que esse juiz pare para pensar que ele (Bruno Martine) continua sendo uma pessoa perigosa para a comunidade e continua recebendo o salário da polícia.”
Para uma das organizadoras da passeata, Natasha Bakos, a comoção do que houve no dia de Natal foi tão grande que várias turmas de Alphaville se uniram pela passeata. “Não teve um único organizador, todos ficaram indignados, estamos revoltados porque o assassino não foi exonerado e continua com porte de arma.”
Defesa
O advogado no bairro de Alphaville disse que seu cliente atirou em legítima defesa. “Ele não queria fazer, mas se viu em uma confusão, e não teve outra alternativa.”
Segundo o advogado, seu cliente estava armado porque saiu do trabalho e foi para a festa. Ainda segundo Leonardo, o escrivão tem bons antecedentes, é primário e tem residência fixa. “Não haveria motivos para mantê-lo preso”, disse.
Os pais
Bastante emocionados, os pais de Maurilio Pereira, Roberto Cláudio e Marisa Ferraz Pereira, acompanharam as duas manifestações, no fórum de Barueri e em Alphaville. Segundo Roberto, o filho era calmo, amoroso, uma pessoa que agregava os amigos de todas as tribos. “Eu quero justiça e que o assassino permaneça preso.”
De acordo com a mãe, os amigos de seu filho e a sociedade estão preocupados com a impunidade. “Está todo mundo muito insatisfeito com a soltura do rapaz que atirou, por motivo nenhum. Alguns amigos estão preocupados com a própria segurança.”
Marisa disse que o filho voltaria a estudar este ano. Maurilio havia deixado os estudos para entrar no exército. Ele havia passado no vestibular da Unesp para cursar biologia marinha e gerenciamento costeiro. “O Maurilio era uma pessoa adorável, pacífica, ele apartava brigas, ele era de bem com a vida”, disse a mãe.
O caso
O assassinato do ex-tenente do exército Maurílio Figueira Pereira, de 28 anos, pelo o escrivão da polícia Civil, Bruno Martine, de 25 anos, que comoveu o bairro aconteceu em uma festa de Natal no dia 25 de dezembro.
O acusado foi retirado da casa onde acontecia uma festa no condomínio Tamboré 3, às 5h, porque estava na pista de dança expondo sua arma. “Ele falava que era da polícia e mostrava a arma”, comentou uma das pessoas que estava na festa.
Por volta das 7h, a festa havia terminado e os seguranças estavam auxiliando as pessoas para que se retirassem. Pouco tempo depois, duas mulheres que estavam saindo da festa de salto alto se apoiaram no carro do escrivão, uma EcoSpor, para tirar o sapato. Ele começou a ameaçar as mulheres com a arma. Com medo, elas saíram de perto do carro e avisaram os seguranças do condomínio que havia um homem armado dentro do residencial.
As pessoas pediram calma para Bruno Martine, entre eles o ex-tenente Maurilio Pereira, mas transtornado Bruno continuou agressivo. “Foi quando ele começou a trocar socos com Maurilio. Com Bruno no chão, ele sacou a arma e deu dois tiros, matando o ex-tenente”, afirmou uma das testemunhas.
Fonte: Folha de Alphaville